O eufemismo é um recurso estilístico usado, frequentemente, para suavizar a realidade. Sendo assim, há algum tempo, perdi uma amiga de infância para a "doença da moda". As pessoas, especialmente os mais idosos, têm medo de chamar as coisas pelos nomes, pois receiam estar a evocar algo, quer seja o Diabo ou uma doença. Na verdade, o que acontece é que a Daniela “passou a sombra” devido ao cancro, aos 17 anos de idade.

Por mais que não queiramos, vamos passar na nossa vida por muitas injustiças e esta, para mim, foi uma das primeiras da minha vida. Faz algum sentido uma criança tão inocente “levar o óbolo ao barqueiro sombrio”? (Porque para mim ela sempre foi uma criança, tendo passado estes últimos anos a lutar não teve tempo de crescer e de aproveitar os primórdios da sua adolescência). As memórias que levo são, precisamente, dos aniversários dela. Passávamos a tarde a correr, de um lado para o outro, a jogar às escondidas ou à apanhada.

 


Levantam-se questões acerca da pós-vida, se é que existe. Apesar de não ter nenhuma religião, é difícil aceitar o nada como resposta. Isto porque é complicado não ser eu, não ser consciente, não ter um estado físico... Ou será que terei? Reencarnação? Paraíso? Inferno? Que interessa? O que importa é viver o presente.

XX Júlia